Cultura amnésica, património alheio e ingratidão histórica

O dia 6 de Dezembro assinala o 21.º aniversário da elevação de Sintra a Paisagem Cultural pela UNESCO. O actual executivo camarário anunciou no ano transacto que estas celebrações decorreriam ao longo de um ano, culminando, pois, no dia 6 de Dezembro.

Mas, o executivo lançou, então, os foguetes, fez a festa e apanhou as canas numa comemoração estéril que apenas produziu um logótipo, ou seja, uma mão cheia de nada...

De facto, a insensibilidade deste executivo camarário no que concerne a iniciativas culturais é, por demais, evidente. Ora, sucede que, desde Dezembro de 2015 até à presente data, pouco ou nada se viu dessas anunciadas celebrações que passaram ao largo da sua concretização material, excepto no já referido logótipo escarrapachado aqui e além, em iniciativas avulsas que, no seu todo, não se traduziram numa programação prévia, devidamente planeada e com a qualidade que se impunha.

No passado mês de Outubro, a Sociedade Parques de Sintra Monte da Lua inaugurou a exposição Fernando Coburgo fecit – a atividade artística do rei consorte, cujo duplo centenário se celebra agora. Estranhamos o facto – ou não! – da Câmara Municipal de Sintra, acionista daquela Sociedade, encontrar-se completamente omissa na programação, ou seja, não deverá ter dado qualquer contributo... este é, sem dúvida, um bicentenário entre a ingratidão e o esquecimento!

Na verdade, o executivo camarário optou, antes pelo contrário, por apoiar o V Encontro de História de Sintra (e bem), organizado pela Alagamares, “Nos 200 anos dum rei artista” que contemplou dezasseis comunicações e, somente uma, a de Nuno Gaspar (“O Sultanato da Pena, entre o Mito e a Realidade – Considerações e Reflexões sobre uma Publicação Inédita”), se aproximou da evocação memorial de D. Fernando II.

Estamos praticamente no fim do ano deste duplo centenário, o Pelouro da Cultura não manifestou, ainda, publicamente qualquer intenção de recordar com dignidade a memória perdurante do Rei D. Fernando II, a quem Sintra tanto deve.

Ou será que vai deixar cair no esquecimento, tal como a celebração dos 150 anos do nascimento da Rainha D. Amélia (que preferia a velha sobreira de Sintra que Cascais e Estoris tudo junto), cujas celebrações vincaram-se nos anais sintrenses em tinta invisível num único espectáculo lírico na Quinta de Ribafria, cujo programa divulgativo o associava às “comemorações” afinal inexistentes? Ou irá igualar, encerrando com pompa e circunstância, as comemorações também inexistentes do vigésimo aniversário da dignidade conferida a Sintra pela UNESCO no ano em que se celebra o 21.º ano? Faria mais sentido festejar as bodas de prata, ou não?

Parece-nos, pois, que estamos perante outra mão cheia de nada!

Connosco, a história seria outra!

Vereadora Paula Simões

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