A “Não” Agenda do Professor

Há mais de 20 anos que a Câmara Municipal de Sintra oferece aos docentes do concelho uma agenda dedicada àqueles que, diariamente, lecionam nas escolas de Sintra. Criada especificamente para cada educador/professor, sempre se revelou um instrumento útil, pela sua organização temática e pelo momento em que era entregue, isto é, no início de cada ano letivo.

Estranhamente, este ano, a distribuição da agenda aconteceu na semana passada, ou seja, no início do 2º período. Atraso?! As mentes mais desatentas poderiam pensar assim, não se tratasse de um grupo profissional com características muito específicas, das quais se destaca a atenção. Habituados, há muito, a verificar documentos dos alunos, a entrega desta agenda revelou-se, no mínimo, inusitada…

Ao observarmos a capa, lemos que é uma “Agenda do Professor 2017”… e, ironia ou descuido, na realidade esta agenda é relativa ao ano civil em curso, uma vez que começa no dia 26 de Dezembro de 2016 e termina a 31 de Dezembro de 2017. Mas, curiosamente, a organização inicial remete para o horário do docente para o presente ano letivo, que, como todos sabem, tem início em Setembro de 2016 e termina em Agosto de 2017. Contudo, esta organização, ou melhor, a falta dela, não fica por aqui, porque a “não” agenda do professor inclui páginas específicas para o 1º período, desde calendário para registo das reuniões de avaliação, pausas letivas, turmas, aulas previstas e dadas.

O texto inicial do Presidente da Câmara refere especificamente “Neste ano letivo de 2016-2017…”, o que, na realidade não corresponde, de forma alguma, ao que foi entregue. Ninguém imagina que os docentes estariam a aguardar esta agenda para a utilizar, como sempre o fizeram, ou que fossem agora registar qualquer apontamento do que já passou! Pior ainda: qual a utilidade então desta agenda, quando nem um separador tem para um novo registo do seu horário a partir de Setembro do corrente ano?!

Mas façamos ainda uma análise mais cuidada. Dedicada à celebração dos 40 anos do Poder Local, com a realização das primeiras eleições autárquicas democráticas no dia 12 de Dezembro de 1976, no editorial do Vice-Presidente, Rui Pereira, que tutela a Educação, pode ler-se: “Esta agenda pretende fazer uma pequena resenha do que estes 40 anos trouxeram de novo para o município… as marcas impressas por cada projeto de cada um dos autarcas, vereadores, presidentes de junta de freguesia, deputados municipais”.

Ora bem, se era este o objetivo, desenganem-se, porque, na realidade, ao desfolharmos esta “não” agenda do professor, verificamos que, para além dos dois textos que integram o editorial, do Presidente e do Vice-Presidente da Câmara, surge o testemunho do Presidente da Assembleia Municipal atual, da Líder do Grupo Municipal do PSD, do GRUPO POLÍTICO DO PARTIDO SOCIALISTA NA ASSEMBLEIA MUNICIPAL (pasme-se o destaque dado pela atribuição das maiúsculas, que não é inocente) e de outros protagonistas, que, sem desprimor para os seus contributos históricos, bem pelo contrário, nem direito tiveram a qualquer informação anexa que identifique as suas funções ou cargos, ou localize cronologicamente.

E… curiosamente… ou talvez não, afinal, nestes 40 anos, as marcas impressas por todos os restantes foram nulas, uma vez que não existe qualquer testemunho de outro presidente de câmara, por exemplo, ou, quem sabe, de outro Grupo Político.

Nem os textos dos alunos, embora assinados, têm qualquer menção ao estabelecimento de ensino a que pertencem, o que, no mínimo, é de estranhar…

Finalmente, não poderia deixar de mencionar o erro grosseiro, rapidamente detetado e mencionado pelo Professor João Cachado, no último parágrafo do editorial do Presidente da Câmara, indicador, quem sabe, até de algum desleixo a que foi votada esta edição da agenda, que nem revisão atenta de prova teve.

Esta “Não” Agenda do Professor resulta, por tudo isto, num enorme desperdício de dinheiro, para um simples caderno de poucos apontamentos.

Esquecimento atamancado por um instrumento sem utilidade efetiva para os docentes, com tiragem datada a Dezembro de 2016!

Se a intenção era valorizar a classe docente, esta”Não” Agenda do Professor é um tremendo fracasso, uma tentativa vã de colmatar um erro com uma série de gafes, que nos fazem pensar no rumo da Educação neste Concelho… Os docentes merecem mais, “porque em prol de uma Educação cada vez melhor para os jovens do Concelho de Sintra, constroem caminhos que os levarão, por certo, a horizontes de renovada esperança”.

Vereadora Paula Simões

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