Como vai a nossa saúde?

Continua a ser uma radiografia aquilo a que nos propomos, mas desta feita sobre a Saúde e para o Concelho de Sintra no seu todo.

Com base no Plano Local de Saúde, documento estratégico e instrumento de apoio à gestão na tomada de decisão dos órgãos prestadores de cuidados de saúde, elaborado pela Equipa do Observatório Local de Saúde/ ACES Sintra, pretendeu-se dar à partilha a identificação das nossas vulnerabilidades (que são diversas, a começar pela demografia e pela estrutura familiar, a escolaridade ou a expressão do desemprego, passando pelos nados-vivos pré-termo e de termo com baixo peso), que, ao darem um contributo inquestionável para o perfil da saúde, acabam por condicionar as nossas escolhas e a vida que vivemos… e também, necessariamente, aquilo de que padecemos.

E é sobre os problemas de saúde mais sinalizados pelos médicos do ACES Sintra que assenta a análise, permitindo, desde logo, concluir que todas elas são em número superior ao da média registada na ARSLVT (Adminstração Regional de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo).

Somos mais os hipertensos com e sem complicações, como somos mais os diabéticos insulino-dependentes, ou não dependentes, mas somos sobretudo muitos mais os que apresentam perturbações depressivas, ou que sofrem as consequências do tabagismo ou da obesidade, com a discrepância a ser nestes últimos casos, muito significativa.

Priorizados os problemas de saúde, que resultaram da média dos resultados das priorizações identificadas no Perfil Local de Saúde pelo Observatório Local de Saúde, pela ACES e pela Sociedade Civil, fica pronto o diagnóstico sobre aquilo de que mais padecem os sintrenses.

É sobre esse diagnóstico, sopesando o que lhe está na génese, que são definidas metas e delineados os eixos e estratégias de intervenção para as alcançar, visando reduzir a sua expressão e para tal convocando todas as partes interessadas, atuando a diferentes níveis, sempre no pressuposto da corresponsabilização dos envolvidos no processo.

O Plano Local de Saúde de Sintra 2015-2017 é a base sobre que assenta a caracterização sumária que aqui fazemos sobre como vai a saúde no Concelho de Sintra.

Documento estratégico que pretende contribuir para ganhos em saúde na população de Sintra, foi desde sempre assumido como um instrumento de apoio à gestão, capaz de sustentar as opções dos vários parceiros, sempre no pressuposto da corresponsabilização e da participação dos cidadãos e visando apoiar a tomada de decisão dos órgãos prestadores de cuidados de saúde.

Identificar os problemas de saúde mais prementes no concelho de Sintra, identificar as necessidades em saúde, contribuir para o processo de planeamento em saúde e avaliar o impacto das medidas propostas e implementadas, contam-se como principais objectivos.
“É também um compromisso social, na medida em que convida todas as partes interessadas (ACES – Agrupamento de Centros de Saúde de Sintra e comunidade) a envolverem-se no processo de planeamento em saúde, corresponsabilizando-as ao nível da decisão política, das instituições, dos profissionais e do cidadão.”

Comecemos por referir que para uma população residente de 377.835 habitantes (segundo os Censos de 2011), o número de utilizadores do Sistema Nacional de Saúde cifra-se em 367.989.

Destes, cerca de 29,1% não teriam médico de família, naquilo que correspondia a 107.033.

Em matéria de Rede Nacional de Cuidados Continuados Integrados (RNCCI) e com base na projecção de 66.820 pessoas com mais de 65 anos, a necessidade identificada de camas para dar resposta às diferentes tipologias previstas no âmbito da Rede, estimava-se em 481. Destas, verificava-se a existência de apenas 101, sendo que 30 estariam planeadas, o que resultava num défice de 350!

Em termos de prioridades para o Concelho de Sintra, a disponibilidade de camas em Unidades de Convalescença, que inexistiam e o aumento do número de camas em Unidades de Cuidados Paliativos.

Vulnerabilidades identificadas:

O número de recém nascidos com baixo peso à nascença, tem-se mantido quase inalterável entre 2001 e 2011.

De 2001 para 2011, o nº de famílias monoparentais aumentou cerca de 3,5 pontos percentuais no Continente, 4,2 na Grande Lisboa e 6,0% em Sintra.

Já as famílias unipessoais, os aumentos foram de 4,2%, 4,5% e 4,4%, respectivamente.

De 2007 a 2010, verifica-se um crescente nº de beneficiários do Rendimento Social de Inserção (RSI) no concelho de Sintra, acompanhando a tendência nacional e a da Grande Lisboa. O decréscimo verificado no Continente e na Grande Lisboa em 2011 e 2012, só teve acompanhamento em Sintra no ano de 2012. Mas nesse ano, 40,18% da população ativa do concelho continuava a receber o RSI.

Em Sintra assistiu-se desde 2014 a uma das maiores reduções de beneficiários de RSI de Portugal – de 7.992 para 1.994 em 2016, naquilo que representou uma diminuição na ordem dos 24%, mais que o dobro da média de redução desses beneficiários em Portugal, embora esta diminuição não deva ser lida apenas como tendo a melhoria das condições de vida e disponibilidade financeira na sua origem, já que os critérios para seu benefício conheceram também grandes restrições, tornando o universo de destinatários menos abrangente.

A 31 de Dezembro de 2011 a taxa de desemprego em Sintra era superior ás do Continente e da Grande Lisboa, representando 13,54%, contra 13,19% e 12,35%, respetivamente.

Mas em 2017, Sintra protagonizava  a maior redução do nº de desempregados entre os municípios da AML, representando uma redução na ordem dos 40%.

Aliás, o valor de 5% da taxa de desemprego em Sintra fica abaixo da taxa média de Portugal Continental, que correspondeu a 7%.

“Entre 2014 e 2017, Sintra regista a 3ª maior redução de desemprego jovem da AML – 60%; -45% de desempregados com idades compreendidas entre os 25 e os 34 anos, – 41% no intervalo dos 25 aos 34 anos e -13% no grupo dos que têm 55 anos ou mais, naquilo que corresponde a uma redução global de 6.697 pessoas desempregadas – 38%.”

Relativamente ao nível de habilitações da população residente, Sintra está ligeiramente abaixo da AML no que ao 1º CEB (Ciclo do Ensino Básico) diz respeito, com 19,7% de pessoas que têm como nível de escolaridade mais elevado completo em 2011 o 1º ciclo, contra os 20,8% na Área Metropolitana de Lisboa, mas distante da média nacional, que corresponde a 25,4%.

Já no que se refere ao 2º CEB, a percentagem é igual entre Sintra e o Continente e um pouco acima da da AML: 13,2% em Sintra e no Continente, contra 11,3% na AML.

20,2% contra 16,3% é a diferença percentual registada entre os que têm o 3º Ciclo em Sintra face à média nacional, sendo que também a média na AML é superior à do Continente ainda que inferior à municipal.

Também ao nível do Secundário, Sintra está bem acima, com 17,7 dos residentes, contra 13,5 no país e 16,3 na média dos 18 municípios da AML.

Já ao nível do ensino superior é na AML que a expressão é maior (com 16,5%), quedando-se Sintra nos 11,2%, muito próxima do todo nacional, com 11,9%.

Em 10 anos a taxa de abandono escolar em Sintra desceu de 1,50% em 2001, para 1,37% em 2011, acompanhando o verificado no Continente e na Grande Lisboa.

A taxa de criminalidade total em Sintra é inferior à taxa de Portugal Continental – 36,8%0 versus 39,4%0, mesmo se o valor da taxa de furto/roubo e por esticão e na via pública, é superior em Sintra, quando comparada com Portugal Continental – 3,3%0 e 1,5%0.

De que sofremos?

Feita esta radiografia das vulnerabilidades, importa que identifiquemos os seis problemas de saúde mais codificados pelos médicos do ACES Sintra:

  1. Hipertensão arterial
  2. Alterações no metabolismo dos lípidos
  3. Diabetes
  4. Perturbações depressivas
  5. Tabagismo
  6. Obesidade

Importa ainda atentar no tamanho da discrepância entre o número de registos de alguns desses problemas e a média registada na ARSLVT, o que ilustra o desvio verificado. Temos assim como mais expressivas:

Principais problemas Nº de codificações Média na
ACES ARSLVT
HTA Hipertensão sem complicações 37.584 34.189
Hipertensão com complicações 5.704 5.581
Alteração metabolismo dos lípidos 33.361 28.367
Diabetes Diabetes insulino-dependente 1.584 1.338
Diabetes não insulino-dependente 14.460 12.738
Perturbações depressivas 15.790 13.007
Tabagismo 15.431 10.201
Obesidade 11.309 8.801
Fonte: SIARS E SAM, 2012

Daqui resulta que face à sua expressão assumem um desvio mais significativo as duas últimas: Tabagismo e Obesidade.

Priorização dos problemas de saúde

A Diabetes Mellitus, as Doenças Cérebro-cardiovasculares; as Perturbações Depressivas, as Doenças Oncológicas e as Doenças Respiratórias foram os problemas de saúde identificados no Perfil Local de Saúde de Sintra.

A sua priorização para o Plano Local de Saúde de Sintra, resultou da média dos resultados das priorizações dos problemas de saúde identificados no Perfil Local de Saúde pelo Observatório Local de Saúde, pela ACES Sintra e pela Sociedade Civil.

Problemas de saúde Prioridades Prioridades Prioridades Média Priorização
OLS ACES Soc. Civil
Diabetes mellitus 1 3 3 2,33
Doenças
cérebro-cardiov. 2 1 2 1,67
Perturbações
Depressivas 3 4 1 2,67
Doenças
oncológicas 4 5 4 4,33
Doenças
respiratórias 5 2 5 4

No final, obtida a média do somatório dos valores absolutos das prioridades votadas,  resultaram 3 problemas de saúde que foram considerados prioritários:

1º – Doenças Cérebro-cardiovasculares;

2º – Diabetes Mellitus;

3º – Perturbações Depressivas

(Nota: Relativamente às priorizações dos problemas de saúde, ressalva para a estranheza dos resultados decorrerem da média do somatório dos valores das prioridades votadas, na medida em que é conferido o mesmo peso às 3 entidades!

Discrepâncias mais notórias verificam-se relativamente às perturbações depressivas, fruto da eventual representação que a sociedade civil tem sobre este problema, que lhe confere o 1º lugar, quando o OLS lhe dá o 3º e o ACES o 4º.

No caso da Diabetes Mellitus a discrepância verifica-se entre o OLS, que lhe atribui o 1º lugar e a equiparação do 3º lugar conferido pelo ACES e pela Sociedade Civil.)

Além dos 3 problemas identificados, foram também considerados prioritários pelo OLS:

– A tuberculose (por apresentar uma taxa de incidência superior à taxa nacional para os anos de 2010- 2012);

– A mortalidade infantil (por apresentar uma taxa no concelho de Sintra superior à da Grande Lisboa para o período 2009- 2011).

Principal causa de morte as Doenças Cérebro-cardiovasculares, os seus efeitos foram sentidos, em 2013 e 2014, por mais de 1.000 habs. de Sintra.

Com a prevalência de hipertensos a assumir nestas doenças um fator de risco, o seu controle representa um importante desafio, tendo sido rastreado que a proporção de hipertensos com a Pressão Arterial controlada era inferior ao desejável.

Para subverter este resultado e melhorar os indicadores relativos ao diagnóstico e controlo da HTA, foram definidas as seguintes metas:

– Aumentar os níveis de literacia, em matéria de Cidadania em saúde;

– Estimular a prática do exercício físico e promover a alimentação saudável, no âmbito das políticas saudáveis;

– Reforçar os mecanismos de diagnóstico e controlo adequado da HTA, a articulação entre os vários níveis de prestação de cuidados e assegurar a continuidade dos cuidados a doentes com indicação para reabilitação, no domínio da Equidade, Acesso e Qualidade em Saúde.

Em termos de estratégias, destaque para:

– Apoio a projectos a desenvolver em meio escolar, no âmbito do Programa Nacional de Saúde Escolar (PNSE);

– Apoio a projectos de associações locais e organizações empresariais;

– Disponibilização de espaços públicos e equipamentos facilitadores da prática do exercício físico;

– Apoio a projectos que combatam o sedentarismo;

– Adequar a composição das refeições servidas em instituições públicas e IPSS, nomeadamente através da sensibilização e formação das empresas de restauração e outros fornecedores de alimentos confeccionados;

– Apoio à realização de rastreios locais no âmbito do controlo da Pressão Arterial, peso, glicémia, colesterolémia e trigliceridémia;

– Acesso facilitado a consulta nos casos rastreados;

– Alargar parcerias a outras entidades prestadoras de cuidados de saúde no sentido de potenciar a celeridade diagnóstica e controlo terapêutico adequado.

Com uma prevalência estimada de 13% na população portuguesa com idades compreendidas entre os 20 e os 79 anos a Diabetes Mellitus viu-se diagnosticada em 6,7% ao nível do ACES Sintra. A circunstância de se revelar abaixo da estimativa nacional, poderá ser um indício de que existiam diabéticos por diagnosticar.

A prática regular de exercício físico, a alimentação adequada, o controlo adequado de dislipidémia, da glicémia e da HTA, a vigilância periódica de saúde e a literacia em saúde, foram identificados como determinantes protectores.

Em termos de metas, destaque para o propósito de até ao final de 2017 se aumentar para 60% a proporção de utentes com Diabetes Mellitus com consulta de enfermagem de vigilância em diabetes no último ano.

Também o aumento em literacia em saúde com vista à capacitação da população para adoção de comportamentos saudáveis, nomeadamente através do apoio a projectos no âmbito do Programa Nacional de Saúde Escolar e do apoio a programas e projectos locais e a implementação de plano de intervenção nutricional, se assumem como estratégias.

No âmbito deste último, surgem propostos, como eixos de intervenção:

– A criação de parcerias com empresas locais distribuidoras de alimentos, incentivando a distribuição de alimentos saudáveis;

– A sensibilização dos empresários ligados ao ramo da restauração para adequar as refeições servidas, no que diz respeito à sua composição, com especial enfoque na redução de açúcar, gordura e sal;

– Controlo da qualidade das refeições nas cantinas e máquinas de venda automática, com especial atenção para gorduras, sal e, naturalmente, açúcares.

Com os problemas de saúde mental a constituírem actualmente a principal causa de incapacidade e uma das mais importantes causas de morbilidade nas nossas sociedades, também em Portugal, de acordo com a publicação da Direção Geral de Saúde “Portugal, Saúde Mental em Números – 2014”, os dados da prevalência anual resultantes do Estudo Epidemiológico Nacional de Saúde Mental, mostram que as perturbações psiquiátricas afetam mais de 1/5 da população portuguesa.

No Perfil Local de Saúde de Sintra (2013), as perturbações depressivas ocupam o 4º lugar como problema de saúde mais registado no ACES. Já no Plano Local de Saúde foram classificadas como o 3º problema de saúde prioritário para intervenção.

Merece referência o facto de no ACES Sintra, entre 2012 e 2014, ter sido registado um aumento progressivo de perturbações depressivas, tendo-se verificado, em 2014, um registo de 17.742 utentes, naquilo que corresponde a uma proporção de 4,9% de utentes com perturbação depressivas.

A implementação de projectos dirigidos aos grupos de risco, para formação/ação em competências de avaliação de factores desencadeantes ou precipitantes de depressão, o estabelecimento de protocolos de articulação entre os diferentes níveis de cuidados de saúde, visando a formação, referenciação e consultoria de forma a melhorar a detecção precoce/diagnóstico e a redução para valores inferiores a 1,10% dos óbitos por suicídio, contam-se entre as metas definidas para menor morbi-mortalidade por perturbações depressivas.

Doença infecciosa que permanece entre as principais que afetam a população mundial, registando as maiores taxas de mortalidade em adultos, juntamente com a infecção por HIV/SIDA, apresenta também grandes repercussões socioeconómicas, já que atinge predominantemente a população em idade produtiva.

Com Portugal a constituir-se como um dos países da União Europeia com maior incidência de casos de Tuberculose notificados , a incidência de tuberculose em Sintra, foi, em 2012, de 36,9 novos casos/100.000 habs.

E mesmo se no ano seguinte, em 2013, se verificou um decréscimo significativo para 26,5 novos casos/100.000 habs., ela mantém-se superior à incidência nacional que foi de 21,1 novos casos/100.000 habs.

Residindo essencialmente  o controlo da tuberculose numa comunidade no quebrar da cadeia de transmissão da infecção e atendendo à relevância deste problema em saúde pública, as metas e as estratégias propostas foram definidas tendo em vista o benefício individual do doente e o benefício colectivo: diagnóstico célere, redução do risco de transmissão, tratamento adequado, prevenção das resistências aos antimicrobianos e redução do risco de mortalidade.

Como metas estipuladas, a diminuição da taxa de incidência da Tuberculose para um valor inferior a 22/100.000 habs., a diminuição do tempo de demora desde o início dos sintomas até ao diagnóstico (que era em Sintra e em 2014, de 86 dias!), o aumento da taxa de sucesso terapêutico para 84% (que era, em 2014,de 83,6% em Portugal mas de 74,8% em Sintra).

Taxa que expressa o número de crianças de um determinado local que morre antes de completar um ano de vida, por cada mil nascidas vivas, a taxa de mortalidade infantil é utilizada geralmente como indicador do nível de saúde de uma comunidade, baseando-se no pressuposto de que é particularmente sensível a mudanças socioeconómicas e a intervenções em saúde.

No concelho de Sintra a taxa de mortalidade infantil entre 2010 e 2012 era superior à regional e nacional: 4,4% em Sintra e 2,9% no Continente. Já em 2017, desceria em Sintra para 3,8% e para 2,6% no Continente.

Dada a relevância desta situação, foi considerado importante estudar as causas da mortalidade infantil no Concelho de Sintra, tendo para o efeito sido constituído um grupo de trabalho com elementos do ACES Sintra, CMS, Hospital Fernando da Fonseca e Hospital de Cascais.

Os antecedentes familiares de alterações genéticas/cromossómicas, as co-morbilidades associadas à gestação, os factores sociais e económicos desfavoráveis, a exposição a poluentes ambientais, as más condições de habitabilidade e a baixa literacia em saúde foram à partida identificados como determinantes de risco para a mortalidade infantil.

Já como protectores, temos:

– Vigilância médica pré-concecional,

– Aconselhamento genético,

– Vigilância da saúde materna e fetal de acordo com o preconizado,

– Vigilância da saúde infantil segundo as recomendações da Direção Geral de Saúde,

– Acessibilidade a cuidados de saúde infantil,

– Proteção de crianças e jovens em risco.